No territórios ilegalmente anexados pela Rússia, na sua invasão á Ucrânia, o controlo é feito com ‘mão de ferro’ e a população vive constantemente com receio de agressões, detenções, ameaças, sem acesso a necessidades básicas ou ajuda humanitária.
Alguns aceitam os novos documentos de cidadania russa, outros só acedem depois de serem ameaçados que, se não aceitarem, “são sujeitos a ameaças e intimidação, de restrições a necessidades básicas como alimentação, e de detenção ou deportação, tudo desenhado para obrigar à sua conversão em cidadãos russos”, indica o relatório de investigadores do Laboratório de Investigação Humanitária da Escola de Saúde Pública da Universidade de Yale.
Assim, são muitos os que, pressionados pela fome, acabam por aceitar os passaportes russos, e vendem a sua resistência a manter a cidadania ucraniana por alimentos ou uma refeição quente.
Mikhail Mishustin, primeiro-ministro da Rússia, anunciou em maio que já tinham sido emitidos passaportes russos para 1,5 milhões de pessoas que viviam nas zonas anexadas das regiões ucranianas de Donetsk, Lugansk, Zaporíjia e Kherson, desde outubro de 2022.
Em abril de 2019, recorde-se Putin já tinha assinado um decreto que procedia à simplificação da obtenção da cidadania russa para residentes em Donetsk e Lugansk. Até ao início da invasão da Ucrânia, em fevereiro, mais de 720 destes residentes tinham recebido passaportes russos (cerca de 18% da população).
Donetsk e Lugansk estão agora sob controlo do Exército russo e formalmente reclamados como territórios da Federação Russa, enquanto Zaporíjia e Kherson estão nas mãos de militares de Moscovo, que governam através de um estado policial.
A Mobile Justice Team, do escritório de advogados humanitários Global Rights Compliance, analisou 320 casos e relatos de testemunhas de 35 localidades na região de Kherson, e “43% contaram explicitamente práticas de tortura em centros de detenção improvisados, citando violência sexual como uma prática comum imposta pelos guardas russos”.
Não apenas violações, mas também tortura com recurso a choques elétricos e sufocamento, durante interrogatórios, e mutilações genitais são relatadas pelas vítimas nas regiões ilegalmente anexadas pela Rússia.
A Global Rights Compliance relata também o caso de uma pessoa que foi forçada a testemunhar a violação de outro detido e ameaçada.














